Em defesa do eterno conceito de Deus como um e único

Mês: junho 2011

Hermas

Hermas, irmão do Bispo Pio e provavelmente citado por Paulo em Rm. 16.14 escreveu sua obra “O Pastor”, e esta tornou-se conhecida através de sua circulação por volta de 150 d.C.1 Algumas comunidades e personalidades cristãs antigas o consideravam escrito canônico ou em grande apreço, dentre eles podem ser citados Irineu, Clemente de Alexandria, Orígenes e até Atanásio. Acerca da visão de Hermas sobre Jesus Cristo, Padovese registra que “Em suma, concebe-o como um personagem de dignidade e natureza transcendentes às humanas, sem ser, porém divinas, colaborador de Deus na criação e no governo do mundo, mas num plano de nítida inferioridade.2 Aqui a palavra “sem ser, porém divinas”, na verdade, expressa a informação da inexistência de atribuição de deidade a Cristo naquela época, e não a recusa de sua divindade enquanto origem, pois o mesmo Hermas, em certos momentos, identifica Jesus como sendo o Espírito Santo, portanto, divino, mas não o próprio Deus. A exemplo de Clemente Romano, Hermas nunca afirma que Jesus seja Deus ou um Deus Filho. Mais uma vez perceba que a informação demonstra o conceito cristológico de pessoas que viveram bem próximas à época dos apóstolos e é provinda, também, do II século.

_________________________

1 Padres Apostólicos, Paulus Editora – 1995, pág. 164

2 Padovese, Luigi in Introdução a Teologia Patrística, Edições Loyola – 1992, pág. 63

Zc. 12.10

Costumam usar Zc. 12.10 “e olharão para mim, a quem traspassaram”, cujos versos anteriores falam de Yahweh, e comparam com Ap. 1.7 “Eis que vem com as nuvens, e todo o olho o verá, até os mesmos que o traspassaram; e todas as tribos da terra se lamentarão sobre ele. Sim. Amém”. A partir dai concluem que Jesus é Yahweh que foi traspassado. Aqui é interessante observar que há discordância entre a ARA e a ACF para o texto de Zacarias. Esta última seguiu uma tradução literal do texto Massorético, ao passo que a ARA contextualizou a tradução e colocou “olharão para aquele”. Esse fato tornou-se mais um ponto de disputa entre os defensores de cada um dessas versões. Uma tradução como a ARC, embora literal, cria uma desconexão com o restante do texto que diz: “e pranteá-lo-ão sobre ele” quando era de se esperar “prantear-me-ão sobre mim”, pois como podem olhar para “MIM, o traspassado” e pratearem por “ELE”. A não ser que o traspassar, nesse verso, não tivesse relação material com a perfuração no lado do corpo de Jesus, mas com a dor de um Pai em ver seu filho sendo morto. No entanto, tal linha não justificaria a citação desse verso no NT exatamente no evento da crucificação. A ARA entendeu contextualmente a passagem de Zc. 12.10 como “e olharão para aquele a quem traspassaram, e o prantearão”; o que parece ser, de fato, a melhor leitura desse verso. O próprio texto de Apocalipse onde procuram buscar a identidade comum entre Yahweh e Jesus, confirma uma leitura na terceira pessoa. Ali se constata que os versos que citam o evento descrito em Zacarias 12.10 não o fazem no primeira pessoa. Isso indica que no contexto amplo Yahweh está falando daquele que seria traspassado e não dele mesmo, como querem os trinitaristas. De qualquer forma uma coisa contrapõe a outra, pois se aquele que foi traspassado foi visto, no caso Jesus, não pode ser Deus, pois Deus nunca foi visto (I Tm. 6.16), e se Deus foi traspassado o sentido não pode ser material, pois Deus é Espírito, o que levaria o “traspassar” para esfera espiritual desassociando o dito pelo profeta do ato de perfuração do corpo, embora explicitando a dor da morte do Filho pelo Pai. Vale destacar (se a requisição de identidade recair na equivalência literal da tradução do texto hebraico) que nem sempre o NT segue a leitura do texto Massorético, sugerindo uma fonte diferente e, na verdade, por vezes, difere, de fato, do texto hebraico geralmente utilizado, basta lermos a citação do cumprimento profético dessa passagem em João 19.37 “E outra vez diz a Escritura: Verão aquele que traspassaram.”, perceba “aquele” e não “a mim”. Tal leitura se harmoniza com o contexto amplo das Escrituras que dizem que Jesus foi visto, mas Deus nunca foi visto: I Tm. 6.16 “Aquele que tem, ele só, a imortalidade, e habita na luz inacessível; a quem nenhum dos homens viu nem pode ver, ao qual seja honra e poder sempiterno. Amém.” Ora, se Zacarias for entendido como literal, então, estará falando do Corpo de Jesus, portanto o que é perceptível ao olho humano. No entanto versos como I Tm. 6.16, dentre outros, nega que tenha ocorrido a possibilidade de tal contemplação de Deus no evento da crucificação. Aquele que foi traspassado, nosso Senhor, estava morto e reviveu, mas há UM que não pode ser visto pelos mortais e nunca morreu, Yahweh nosso Deus.

Desenvolvido em WordPress & Tema por Anders Norén