Em Ap 21.7 lemos: “a quem vencer eu serei o seu Deus …”. Esse verso é interessante porque embora não esteja explícito que tenha sido Jesus quem disse isso, algumas pessoas fazem essa associação por causa de um versículo citado no começo de Apocalipse, em 1.17. Porém olhando para os versos anteriores, já em 20.4, Jesus é identificado como Jesus, e, Deus como Deus. Em 20.6, Jesus é identificado como Cristo, e, Deus como Deus. Adentrando no capítulo 21 de Apocalipse temos João falando que ouviu uma voz, e essa voz (v.3) fala de Deus nos versos 3, 4, mas Ele, Deus, já tinha sido citado também no verso 2. O verso 5 se refere ao que “estava assentado sobre o Trono”, aquele mesmo “de cuja presença fugiu o céu e a terra”. O v. 7 é confirmação do v.3. Mais adiante Jesus é identificado como Cordeiro, e, Deus como Deus. Ou seja, não há elementos textuais no trecho em que o versículo está inserido para afirmar que foi Jesus. Somente pela regra costumeiramente usada pelos Tjs de comparação por associação de pessoas, a mesma que faz eles pensarem que Jesus é Miguel, é que se ventila essa possibilidade. Pensa-se que se em Ap. 1.17 Jesus disse que é “o primeiro e o último”, e em Ap. 1.8 e Ap. 21.6 Deus, o Pai, diz: “eu sou o Alfa e Ômega, o princípio e o fim”, então, são o mesmo “ser”.
Para clarificarmos essa questão talvez seja oportuno analisarmos, paralelamente, outros textos que referencia Jesus e Deus numa suposta condição de exclusividade de expressões. Como por exemplo “rei dos reis”. Se é “rei dos reis”, quantos “reis dos reis” podem existir? Segundo a própria Bíblia mais de um: Ed. 7.12 “Artaxerxes, rei dos reis, ao sacerdote Esdras, escriba da lei do Deus do céu, paz perfeita, etc.”, Ez. 26.7 “Porque assim diz o Senhor DEUS: Eis que eu, desde o norte, trarei contra Tiro a Nabucodonosor, rei de Babilônia, o rei dos reis, com cavalos, e com carros, e com cavaleiros, e companhias, e muito povo.”, perceba que as Escrituras chama tanto Artaxerxes quando Nabucodonosor de “rei dos reis”, eles não eram e nunca foram uma única pessoa; um ente consubstancial, e de igual modo as Escrituras chamam Deus Pai de “rei dos reis” em I Tm. 6.15 e a Jesus de “rei dos reis” em Ap. 17.14. Assim fica evidente que tais expressões não condicionam a um possível ineditismo, mas revela a possibilidade de um mesmo título ser aplicado com perspectiva não exclusivista a mais de uma pessoa.
Com isso em mente observemos o contexto onde as palavras foram escritas, ao dizer, Jesus, que era o “primeiro e o último”. Ele, Jesus, segue falando sobre haver sido morto e estar vivo, e, de fato, ele foi o primeiro, porque foi morto antes da fundação do mundo, e o último porque venceu o império da morte, talvez por isso Ele não tenha usado exatamente as mesmas palavras que Deus usou em Ap. 1.8 e Ap. 20.6. De qualquer forma, devemos lembrar que Apocalipse é um livro que até hoje ninguém conseguiu entender por completo. Vejamos, por exemplo, Ap. 22.8-13 “ (v.8)… prostrei-me aos pés do anjo que mas mostrava para o adorar. (v.9) E disse-me: Olha não faças tal; …Adora a Deus. (v.10) E disse-me: Não seles as palavra…(v.11) Quem é injusto…(v.12) E, eis que cedo venho… (v.13) Eu sou o Alfa e o Ômega, o princípio e o fim, o primeiro e o derradeiro”, em uma leitura simples e seguida não se identifica Deus ou Jesus como os comunicadores dessas palavras, mas o ANJO. Somente no verso 16 lemos “Eu Jesus, enviei o meu anjo,…”. Ora, mas foi o anjo mesmo quem disse “Eu sou o Alfa e o Ômega”. Seria aquele anjo, que disse isso, a Quarta Pessoa da “trindade”, que a essa altura precisaria ser reformulada? Ou devemos considerar a questão mais contextualizada? Contextualizar não somente a ocorrência nessa passagem, mas em todas as outras em que aparece em Apocalipse? Se alegarmos que o Anjo disse o que Jesus diria, então precisamos ir mais além e lembrar que o conteúdo de Apocalipse é revelação dada por Deus a Jesus e não o contrário, Ap. 1.1. Assim, porque não está dito que foi Jesus quem falou em Ap. 21.7, é preferível entender contextualmente Deus, como Deus nessa passagem, e não como Jesus; motivado por uma possibilidade insegura de associação.