Teria Jesus ressuscitado a si próprio? Bem, alguns afirmam que sim ao lerem Jo. 10.17 “Por isto o Pai me ama, porque dou a minha vida para tornar a tomá-la. 18 Ninguém ma tira de mim, mas eu de mim mesmo a dou; tenho poder para a dar, e poder para tornar a tomá-la. Este mandamento recebi de meu Pai.” Mas estes versos estão falando da sua possível capacidade de uma auto-ressuscitação ou querem dizer outra coisa?

A Bíblia do Peregrino, parece ter se preocupado com o sentido do verbo λαμβάνω “lambánô” (que significa também receber, tomar, recuperar) no subjuntivo λάβω “lábô”, empregado por Jesus, o qual denota: possibilidade, desejo ou propósito; ao traduzir os versos da seguinte forma: “Por isso o Pai me ama, porque dou a vida, para recuperá-la depois. 18 Ninguém a tira de mim; eu a dou voluntariamente. Tenho poder para dá-la e recuperá-la depois. Este é o encargo que recebi do Pai.” Esta parte final ainda pode ser traduzida por “Tenho autoridade para dá-la, e autoridade para, novamente, recebê-la”

Dizer que Jesus ressuscitou a si mesmo por causa desse verso ou de Jo. 2.19 que trazendo para a primeira pessoa é compreendido como “Matai-me e em três dias eu me levantarei”, produz algumas estranhas conseqüências, pois como poderia estar morto se iria pronunciar sua própria ressurreição? Seria uma morte aparente? Se a parte “Deus” de Jesus ressuscitou sua parte “homem”, então, não se pode dizer, como defendem os trinitaristas, que “Deus se fez carne para morrer pela humanidade”, visto que Deus não morre. E, se Deus não morre, qual o espírito que dava vida a Jesus enquanto homem? Ele tinha, ou tem dois espíritos? Um que o tornava passível de morte e outro que era Deus? Se a possibilidade da morte de “Deus” decorreu do entendimento do esvaziamento dito em Fp. 2.6, dentro da visão trinitariana, então, Ele na terra não era Deus, mas apenas homem?

Bem, voltando para Jo. 10.17, percebamos que Ele tinha o poder de dar sua vida (…por que dou a minha vida), mas atente que esse poder não significava e nem queria dizer que ele iria amarrar seus próprios punhos, chicotear a si próprio, construir a coroa de espinhos e cravar-lhe a própria cabeça, e se dirigir ao destacamento romano, apresentando-se a um general, que consequentemente o levaria a Pilatos, e lá iria se autoproclamar culpado e atendendo ao pedido dos judeus, se jogar na cruz e martelar os cravos em, pelo menos três de seus membros na madeiro e solicitar ao soldado que martelasse a última mão livre. Claro que não! Esse poder era a ação de deixar acontecer aquilo que o Pai determinou e não atuar como executor de sua própria prisão e morte. Assim, Jesus deixou os eventos que o levariam à morte acontecerem não sendo Ele seu próprio carrasco conforme provado em Jo. 18.11 quando lemos: “Disse, pois, Jesus a Pedro: Mete a tua espada na bainha; não hei de beber o cálice que o Pai me deu?” e ainda Mt. 52 “Então Jesus disse-lhe: Embainha a tua espada; porque todos os que lançarem mão da espada, à espada morrerão. 53 Ou pensas tu que eu não poderia agora orar a meu Pai, e que ele não me daria mais de doze legiões de anjos?”; logo, Jesus, analogamente, estava consciente do destino de sua ressurreição ao dizer em Lc. 23.46 “… Pai, nas tuas mãos entrego o meu espírito. E, havendo dito isso, expirou.”, e, de igual modo não foi o executor de sua ressurreição como não foi da sua morte. Mas, como termos certeza disso? Basta verificarmos os versículos que tratam do assunto!

Em Atos lemos: At. 2.24 “Ao qual Deus ressuscitou, soltas as ânsias da morte, pois não era possível que fosse retido por ela” At. 2.32 “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas.” At. 3.15 “E matastes o Príncipe da vida, ao qual Deus ressuscitou dentre os mortos, do que nós somos testemunhas.” At. 4.10 “Seja conhecido de vós todos, e de todo o povo de Israel, que em nome de Jesus Cristo, o Nazareno, aquele a quem vós crucificastes e a quem Deus ressuscitou dentre os mortos, em nome desse é que este está são diante de vós.” At. 5.30 “O Deus de nossos pais ressuscitou a Jesus, ao qual vós matastes, suspendendo-o no madeiro.” At. 10.40 “A este ressuscitou Deus ao terceiro dia, e fez que se manifestasse,” At. 13.30 “Mas Deus o ressuscitou dentre os mortos.” At. 13.37 “Mas aquele a quem Deus ressuscitou nenhuma corrupção viu.

Em Romanos lemos: Rm. 4.24 “Mas também por nós, a quem será tomado em conta, os que cremos naquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus nosso Senhor”, Rm 8:11 “E, se o Espírito daquele que dentre os mortos ressuscitou a Jesus habita em vós, aquele que dentre os mortos ressuscitou a Cristo também vivificará os vossos corpos mortais, pelo seu Espírito que em vós habita.” Rm 10.9 “A saber: Se com a tua boca confessares ao Senhor Jesus, e em teu coração creres que Deus o ressuscitou dentre os mortos, serás salvo.

Em Coríntios temos: I Co 6.14 “Ora, Deus, que também ressuscitou o Senhor, nos ressuscitará a nós pelo seu poder.” I Co 15.15 “E assim somos também considerados como falsas testemunhas de Deus, pois testificamos de Deus, que ressuscitou a Cristo, ao qual, porém, não ressuscitou, se, na verdade, os mortos não ressuscitam.” II Cor. 4. 14 “Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará também por Jesus, e nos apresentará convosco.” Podemos encontrar esse mesmo testemunho em Gl. 1.1; Cl. 2.12; I Ts. 1.10; I Pe. 1.21.

O mais resistente poderia dizer que quando a Bíblia diz que Deus o ressuscitou dentre os mortos estaria falando também de Jesus, já que, no conceito trinitário, Ele é Deus, mas a Bíblia não querendo deixar dúvidas de que não somente Jesus não é Deus, como, também, não se auto-ressuscitou, claramente identifica quem operou a ressurreição. Leiamos Gl. 1.1 “Paulo, apóstolo (não da parte dos homens, nem por homem algum, mas por Jesus Cristo, e por Deus Pai, que o ressuscitou dentre os mortos)”.