Em termos práticos parece haver um equívoco grave no conceito trinitário que é melhor percebido no trato que Agostinho dá as pessoas da trindade e a própria trindade. Este chegou a cunhar um novo termo designativo da Deidade, chamando-o de o “Deus-Trindade”1. Este esboço ele o fez quando tentou estabelecer a identificação dos seres celestiais que apareceram a pessoas como Abraão, Moisés e outros personagens bíblicos. Ele conclui que em certas passagens é possível identificar, por insinuação, algum membro da trindade, mas em outras não, e, nesses casos, segundo ele, pode-se cogitar que o próprio “Deus Trindade” tenha se manifestado em determinados momentos. Chega a declarar acerca de Ex. 13.21,22 que “Mas não está claro se era o Pai ou o Filho ou o Espírito Santo ou a própria Trindade, Deus uno, que se manifestou”2 e comenta ainda “Tampouco é evidente se apareceu a Abraão uma das pessoas da Trindade ou se o próprio Deus Trindade”3. Aqui começa a ser delineado, pelos argumentos do defensor da doutrina de trindade, a existência, ainda que não admitida, de uma quarta pessoa, hipóstase ou manifestação dentro da Deidade, que seria o “Deus Trindade”, a síntese dos outros três em uma manifestação integradamente plena. Então, se teria, nos dizeres de Agostinho: “Deus Pai”, “Deus Filho”, “Deus Espírito Santo” e “Deus Trindade”, o que inevitavelmente faz-se perceber quatro hipóstases, e desse modo Deus não seria mais uma trindade, mas uma “quadrindade” ou quaternidade.
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1 Op. Cit. Págs. 35 e 191
2 Agostinho in A Trindade, Paulus Editora, 2ª Edição – 1994, pág. 98
3 Idem, pág. 92, ele também cita Deus-Trindade na pág. 35