Esta é uma afirmação comum em meios trinitários. Certamente tal colocação é uma tentativa de justificar ou equacionar as diferenças perceptíveis entre Pai, Filho e Espírito Santo, que comprometem a alegada coigualdade. O grande problema é: Como podem ser iguais na Deidade e diferentes em qualquer outra coisa, se ser Deus significa ser completo em si mesmo. Se qualquer um dos três é exatamente Deus, então, se Deus é Pai, os três seriam Pai, pois não se pode desassociar Deus de sua Paternidade, a não ser que Deus seja um ente e o Pai outro, o que nenhum de nós concordaremos ser possível, ou que Deus seja uma abstração1, e, não um ser pessoal. Ora, não dizem que o que Deus é o Filho é? Pois bem! Deus é o Pai do Filho. Se Jesus é Deus, é por consequência Pai de si mesmo. O mesmo princípio serve à classificação de Filho e Espírito Santo, pois se Deus é o Filho, ou mais especificamente se o Filho é Deus, então, não há como dizer que algum outro que seja tão Deus quanto o Filho, não seja também Filho. Assim, se considerarmos verdadeiro o dogma trinitário não poderia haver distinção entre os entes que “compõe” ou que “são” Deus, mesmo que sejam em funções ou atividades, pois nunca devemos perder de vista que ser Deus é ser completo em si mesmo e por isso nada há que Deus possa ser que outro que se diga também Deus em coigualdade não seja também. Talvez por mais essa inconciliável situação dizem os defensores desse dogma que ele é um mistério insondável.
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1 Do latim abstrahere: a) gramaticalmente, é o ato pelo qual nosso espírito separa, num objeto, uma qualidade particular para considerá-la isoladamente de todas as outras, e com exclusão do próprio sujeito, b) Filosoficamente, abstrair consiste em separar (abstrahere = arrancar, desligar) pelo pensamento, ou considerar separadamente, o que não pode ser dado separadamente, na realidade. c) Processo mental, pelo qual certos caracteres, atributos ou relações são observados, independentemente de outros, que são negligenciados.