Clemente Romano ou Clemente de Roma, bispo daquela cidade entre 88 e 97 d.C. Falecido em 102 d.C, é autor do mais antigo escrito cristão fora das escrituras canônicas1 de que se tem notícia, mais antigo ainda do que os escritos de Tertuliano e Taciano do II século. Irineu em “Contra os Hereges” fala dele: “ele viu os Apóstolos e com eles conversou, tendo ouvido diretamente a sua pregação e ensinamento”. Alguns afirmam que este é o mesmo Clemente citado por Paulo em Fl. 1.3, mas outros discordam. Luigi Padovese comenta Clemente informando que a despeito de “recorrer algumas vezes a fórmulas trinitárias, revela uma concepção cristológica ainda judaizante, uma vez que jamais atribui a Cristo o título de Deus e não enfatiza a sua preexistência.”2 O termo “judaizante” tomado aqui praticamente em sentido pejorativo, revela, na verdade, a prática, naquela época, da preservação da fé no monoteísmo original recebida dos apóstolos pois além da ascendência hebraica ele foi discípulo do apóstolo Pedro e bispo em uma época em que o apóstolo João ainda estava vivo. Assim, o termo “judaizante”, na verdade, é, aqui, sinônimo de um cristão na busca da preservação da fé dos apóstolos e do monoteísmo milenar dos judeus. Mas, apesar disso ele era romano e bispo de Roma, portanto não precisava estar preso as suas raízes hebraicas, assim não era obrigado a manter uma visão, assim chamada, “judaizante” de Jesus Cristo. Se ele não via a Jesus como se fosse o próprio Deus, ele estava apenas preservando, na questão cristológica, o que aprendeu dos primeiros discípulos de Cristo. A palavra “judaizante” só surge se considerarmos um problema de ótica, ou seja, a ortodoxia a partir do século III determinou o que é ou não judaizante no que se refere a divindade. Em Clemente se percebe, então, que não existe um Deus Filho, ou um Cristo Deus, mas o Filho de Deus. Sua proximidade com os apóstolos é significativa para entendermos como eles percebiam quem era Jesus.
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1Manual Bíblico de Halley, Editora Vida – 2000, pág. 776
2Padovese, Luigui in Introdução à Teologia Patrística, Edições Loyola – 2004, pág. 63