Quem foi avalidado por 30 moedas, Yahweh ou Jesus?

Antes de mais nada devemos considerar que esse tipo de declaração encontrada em Zc. 11.12,13 não é uma asseveração de identidade. Nem mesmo um comparativo literal, pois aqui se mostra detalhamentos que não ocorreram dessa mesma forma no ato da traição de Judas. Por isso devemos ficar atentos e fazermos uma leitura mais apurada.

Um olhar sobre o contexto nos leva a considerar o que está dito no verso 4: “Assim diz Yahweh meu Deus: Apascenta as ovelhas da matança”. Aqui há claramente três personagens: Yahweh; as ovelhas da matança e aquele a quem a palavra foi dirigida: um pastor que apascentaria as ovelhas da matança (representado na pessoa do profeta). O contexto mostra um trabalho conjunto feito por um representante (o profeta/pastor) e o representado (Yahweh). Veja que a fala sobre as varas citadas a partir do verso 7 pode muito facilmente ser confundida como se fosse palavras diretas de Yahweh, mas é, na verdade, apenas o profeta seguindo a orientação do verso 4. No v.4 Yahweh ordena “Apascenta” e no verso 7 o profeta obedece: “Eu, pois, apascentei”. A prova que, de fato, é o profeta desempenhado sua incumbência de pastor determinada por Yahweh, se vê nos versos 14 e 15 “Então quebrei a minha segunda vara União, para romper a irmandade entre Judá e Israel. 15 E  Yahweh disse-me: Toma ainda…” (nesse momento Yahweh lhe dá mais uma missão, quando diz “Toma ainda…”, além daquela que culminou no quebrar da vara “Únião”).

Agora leiamos o texto a partir do 11 que diz: “E foi desfeito naquele dia; e assim conheceram os pobres do rebanho, que me respeitavam, que isto era palavra do SENHOR.” Aqui se vê novamente, três personagens: os pobres do rebanho; o que foi respeitado porque reconheceram estar nele a palavra do terceiro personagem: Yahweh. Só então vem o verso 12 “Porque eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata.” Este verso está conectado ao verso 11, ou seja, o profeta requer a avaliação de seu trabalho (trabalho este incumbido por Yahweh) e foi esse trabalho que fez com que “os pobres do rebanho” o respeitassem e que esse trabalho decorria da palavra de Yahweh. Notemos que há uma associação entre a obra do profeta e a determinação de Yahweh. Essa obra do profeta foi avaliada em 30 moedas; logo, como a determinação foi de Yahweh, uma coisa se atrela a outra, mas não cria uma identidade de substância entre Yahweh e o profeta. Veja que é Yahweh mesmo que diz ao profeta (pastor) “Arroja isso ao oleiro”.

Parece que a confusão toda está em uma única expressão “FUI AVALIADO”, mas o texto nesse ponto precisa ser contextualizado. Quem foi avaliado, Yahweh ou a obra do “apascentador das ovelhas da matança”? Bem, contextualmente, principalmente os versos 11 e 12 dizem: “E foi desfeito naquele dia; e assim conheceram os pobres do rebanho, que me respeitavam, que isto era palavra de Yahweh. 12 Porque eu lhes disse: Se parece bem aos vossos olhos, dai-me o meu salário e, se não, deixai-o. E pesaram o meu salário, trinta moedas de prata.” indicam que foi a obra que o tornou digno das 30 moedas. Veja que o trabalho daquele apascentador foi determinado por Yahweh e é por isso que ele reconhece que a avaliação do trabalho do apascentador é a sua (Obs.: isso se considerarmos que não há um ponto e sim uma vírgula após a palavra “oleiro” v.13 [em hebraico não havia pontuação], pois se for um ponto final, seria nesse trecho o profeta falando e não Yahweh falando). De qualquer forma é fácil notar que há sempre dois personagens distintos e que um não é o outro. Um é o enviado (o representante) e o outro aquele que enviou (o representado). Ou seja, se você lê-los a partir de 11.11 terá uma impressão diferente do que se ler apenas a partir do verso 12.

Assim, parece-me claro que aquele cujo trabalho foi avaliado em 30 moedas de prata foi aquele descrito no verso 11 e a expressão “fui avaliado” do verso13 se refere a ele ou a obra conjunta dos dois, ou apenas a execução da obra, no caso o ato de apascentar e isso indicaria o profeta como avaliado.

A desconsideração da existência real da representação faz com que a linha trinitária sempre procure ver que o representante é o representado, para tentar criar uma linha de identidade entre Yahweh e Jesus. Mesmo que em Zc. 11 houvesse uma identificação de Yahweh sendo avaliado em 30 moedas, precisaríamos levar em consideração outros fatores. Veja, por exemplo, dois versos, que sempre é oportuno de citar, para mostrar que a mera conjugação de identidade motivada por uma única ação, conforme prefere entender a linha trinitária, é equivocada:

24.1 “E a ira do Yahweh se tornou a acentuar contra Israel, e incitou a Davi contra eles, dizendo: Vai numera a Israel e a Judá

I Cr 21.1 “Então Satanás se levantou contra Israel, e incitou Davi a numerar Israel.”

Yahweh é Satanás mesmo? Clara e gritantemente a resposta será NÃO. Mas, a linha trinitária, diria “SIM” se os versos envolvidos falassem de Yahweh e Jesus, ao invés de Yahweh e Satanás; ou seja, a linha interpretativa da dogmática trinitária forçosamente será desuniforme, sob risco de identificar Yahweh como sendo o próprio Satanás.

Perceba como esses versos são interessantes, pois por ele temos certeza de que mesmo que ali estivesse o nome Jesus (no lugar de Satanás), ainda assim seria precária a identificação de ambos como sendo o mesmo Deus. Se ali estivesse Jesus, seria difícil convencer um trinitário de que ele não era o próprio Deus, mas o fato de existir um versículo tal como este (com essa redação) mostra que quem dissesse que Yahweh era Jesus (se ali estivesse o nome Jesus) estaria imensamente equivocado, tanto quando estará aquele que disser que Yahweh é Satanás por causa daquela redação.

Por tudo isso, constata-se que não foi a pessoa de Yahweh que foi traído por 30 moedas de prata, mas o Senhor Jesus.