At. 5.3 e 4 é invariavelmente o primeiro da lista para se afirmar que Espírito Santo é outra pessoa e ao mesmo tempo Deus, tal qual o Pai. Mas, certamente, é conveniente meditarmos nesse trecho de Atos. Neles lemos: “Disse então Pedro: Ananias, por que encheu Satanás o teu coração, para que mentisses ao Espírito Santo, e retivesses parte do preço da herdade? … Por que formaste este desígnio em teu coração? Não mentiste aos homens, mas a Deus.” Muitos querem ver nessas palavras uma afirmação de identidade plena entre o Espírito Santo e o próprio Deus, como seres distintos em composição de um ser plural. Mas, essa forma de expressão usada no livro de Atos, ou seja, falando de um e apontando outro não é estranha ao seu escritor Lucas, pois ele no evangelho, que leva seu nome, escreveu: “E disse-lhes: Qualquer que receber este menino em meu nome, recebe-me a mim; e qualquer que me receber a mim, recebe o que me enviou…” (Lc. 9.48) ou, ainda, “Quem vos ouve a vós, a mim me ouve; e quem vos rejeita a vós, a mim me rejeita; e quem a mim me rejeita, rejeita aquele que me enviou” (Lc. 10.16). Ora, a mentira de Ananias foi diretamente aos apóstolos, especificamente a Pedro, mas daí surge a expressão “Não mentiste aos homens...”. O interessante é notarmos que era isso que Ananias pensava haver feito; mentido apenas aos homens. Ora, o fato de Ananias haver mentido a homens e depois Pedro dizer que ele, na verdade, mentiu ao Espírito Santo e depois diz-se que ele mentiu a Deus, não faz dos homens (ou não faz de Pedro) o Espírito Santo (já que a mentira tinha sido dita a um homem) como não faz do Espírito Santo um ente distinto e identificado como o próprio Deus. Assim, de modo similar alguém que rejeita as palavras evangélicas ditas por um crente pensa rejeitar ou resistir ao crente quando, na verdade, está rejeitando a Deus. Lembremos que o Espírito Santo era quem movia e move a ação de comunhão na congregação, de modo que as iniciativas dos apóstolos eram ações do Espírito (“Ele vos guiará…” – Jo. 16.13). Tenhamos em mente que o Espírito Santo é o representante de Deus na vida de Jesus, e o representante de Jesus entre seus discípulos após sua ascensão. Mentir aos apóstolos é mentir ao Espírito Santo que representa Jesus e por consequência é mentir a aquele que a pedido de Jesus enviou o seu Espírito (Mas aquele Consolador, o Espírito Santo, que o Pai enviará em meu nome… Jo. 14.26), ou seja, é mentir primeiramente a Deus. Logo, At. 5.3-4 é insuficiente para se chegar a conclusão trinitária, que contextualmente não se sustenta; portanto, não há razão para ver nesses versos de Atos um terceira pessoa da trindade consubstanciada com o Pai.